sábado, 11 de agosto de 2012

Por que eu não cutuco ninguém no facebook

Era primórdios de 2005 quando a febre azul me atacou. Como todas as febres da vida, o vírus chegou por ter curiosidade demais. Curiosidade mata. Foi no ambiente do ensino médio, ao me deparar com uma matéria de capa da Super Interessante que descobri ela. Queria mesmo ser parte daquela nova comunidade exclusiva que pedia convite para entrar. Por sorte ou maldição do acaso, uma colega de sala tinha um irmão que tinha um conhecido que morava em algum lugar da américa do norte e, por sorte, tinha conta na cobiçada rede (ufa!). Pedi, caso o irmão dela a convidasse que, por favor, ela me enviasse o convite. Dito e feito. Entrei, assim, no mundo das redes sociais com uma conta feita por esta amiga (sim, não fui capaz sequer de criar a conta) e aí começa a minha história.

As pessoas na internet são criativas. E, claro, nas mídias sociais elas não iriam permanecer na visão limitada apenas de trocar mensagens. Hoje a gente vê de tudo. Brechó, promoção de loja de eletrodoméstico, manifestação de cunho social, autoafirmação de egos inflados. Achar pessoas que não via há anos ou facilitar contato com alguém que esteja longe virou detalhe diante do leque de possibilidades. Claro, dentro do leque tem muita coisa que incomoda. Aquele conhecido chato que te adicionou e te convida para compartilhar a foto da promoção ou aquela amiga que ficou com um estudante de medicina e sai marcando seu nome em cartaz mal feito da 679ª chopada do curso são exemplos clássicos de elefantes na rede. Incomodam muita gente.

Assim como as solicitações de aplicativos que surgem a cada segundo de respiro, há outro fenômeno que cresce no mesmo fluxo: as cutucadas. Lembro bem a primeira vez que ouvi o termo. Pensei que fosse piada."O facebook, uma rede - na época - tão séria não criaria uma ferramenta 'cutucar'". Pois bem, criou. Aos desavisados de riso frouxo, cutucar é uma diversão. Cutucar tia, avó, primo, cunhado, desconhedico. Ê festa! O prazer talvez não estivesse sequer em cutucar, mas sim encontrar a vítima por aí e falar: "Cê viu? Cutuquei você lá no livro azul". Ou então, tirar vantagem em roda de amigos. "Cutuco todo mundo, sou cutucador". Ok, livre arbítrio existe.

Cutucar é aquela ferramenta que tem significados, no plural. Pode ser, inclusive, para mostrar interesse em alguém. "AMIGA, ele me cutucou". Ou ajudar àqueles que ainda estão no armário e desejam o corpo nu de alguém. Nesses casos a reação é "KKKKKKKKK". Cutucar também pode servir como pré-requisito  para estereótipos de gente sem noção. Cutucar, aliás, pode ser um carinho de mãe que cutuca filha. Um amor. Perigoso mesmo é quando a sua definição de cutucar é diferente da concepção da vítima cutucada. 'Fábio, melhor amigo de Joana, resolve expressar sua amizade e a cutuca. Joana, após ter recebido a cutucada, para de falar com Fábio.' Entendem? Tão confuso.

Além das infinitas interpretações, a semântica da palavra também incomoda. Segundo o dicionário online Priberam, cutucar significa "Dar levemente com o cotovelo em (para chamar a atenção)". Ou seja, na verdade o significado dá margem a possíveis consequências. O ato em si não quer dizer nada. A ferramenta é apenas um início e não aquele ou outro contexto. Cutucar não é nada aquilo de demonstrar interesse em alguém ou uma representação do amor. Cutucar, na verdade, é uma confusão. É nada.
Confusão por confusão, prefiro me abster do uso da ferramenta.

Darlan Caires

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

De lábios volumosos a canções melancólicas


Posando de diva no ensaio feito para a revista Complex, por Glynis Selena Arba
Amada e odiada. Não há meio termos para ela. Surgida de elevadas expectativas, Lana Del Rey ou surpreendeu ou frustrou muita gente. Batizada como Elizabeth Grant, ela é atualmente a queridinha e Judas da mídia. Em meio a promessas como "a nova Adele" ou a "substituta para Amy Winehouse", a cantora ficou famosa com o pseudônimo exótico no final do ano passado, depois de bombar na rede com um vídeo com colagens e imagens de webcam, produzido por ela própria, da canção Video Games, que logo se tornaria hit. Antes mesmo de lançar o seu primeiro álbum como Lana, Born To Die, Lizzy Grant foi superestimada, vista como a mais nova aposta para o ano de 2012, somente por algumas músicas jogadas na rede.

Sua estreia em televisão foi no Saturday Night Live, em uma apresentação que gerou repercussão e dúvida sobre a sua qualidade artística, tendo sido julgada como fenômeno hype. A recepção foi tão negativa que a moça resolveu adiar o lançamento do álbum e da turnê por conta da péssima repercussão da mídia e do público. No entanto, posteriormente, houveram outras apresentações, como a do programa David Letterman, que a cantora se saiu melhor, levando alguma esperança às pessoas que acreditavam em seu potencial.

A artista causou polêmica por fazer tanto sucesso de forma meteórica e trouxe à tona discussões como sua cirurgia de preenchimento de lábios, a possibilidade do pai da cantora (ou algum empresário) ter bancado sua carreira, sua "mudança de nome" e repaginação no visual (de menina tímida a diva retrô) para atrair o público, entraram nos argumentos dos antagonistas, além é claro, da sua duvidosa qualidade musical, principalmente nas apresentações ao vivo, tendo sua música julgada inclusive, como "sonolenta".

Delicada e provocante no ensaio da Complex, por Gislain Yarhi
No final do ano passado, se falava muito sobre Mrs. Del Rey em todos os cantos. Confesso que esses artistas que surgem do nada geram em mim certa desconfiança. Não sabia quem era aquela com estilo sessentista, tinha visto apenas algumas fotos e logo a julguei como "nada de mais". Quem era ela que causou tanto burburinho, de onde tinha surgido? Despretensiosamente, em um dia qualquer, apertei o play no recém lançado clipe Born To Die no youtube e pronto... Fui surpreendida. O visual do vídeo era belíssimo e para o meu espanto, sua voz e letras, ao contrário do que eu pensava, tinha um timbre incomum e falava de temas sombrios como morte, perda e tristeza. Além do próprio fato da sua morte no vídeo (o que se tornaria comum).




A cantora faz a linha lolita retrô


Junto com os arranjos, a música trazia uma atmosfera trágica - evidente de cara no título - e ao mesmo tempo envolvente e melancólica, me levando à lugares que nunca tinha ido antes, mas que eram familiares e me causavam certa nostalgia. Depois de alguns meses, resolvi baixar, sem expectativas, o recém vazado álbum que continha músicas naquela mesma pegada do segundo single. Acabei viciando. Logo em suas músicas, as quais eu não esperava nada. Com certeza há algo hipnotizante na sua voz. Dentre as melhores do álbum estavam Off to the Races, Diet Mountain Dew, Radio, Summertime Sadness e National Anthem. Aliás, nenhuma música realmente me desagradou no conjunto completo da obra. Born To Die dividiu as críticas e está entre os melhores do ano, segundo a revista britânica NME.

Bem verdade que Lana não trouxe elementos completamente novos em suas canções. No seu álbum, suas composições exploram temáticas como libertinagem, paixões por bad boys, melancolia, tristeza, saudade, tudo embalado em uma pegada gangster e até meio hip hop, além de arranjos eletrônicos e orquestração nas canções, conseguindo surpreender justamente por se mostrar distinta das cantoras pop da atualidade. O que há de errado em ser problemática, afinal? Há espaço para artistas com outros tipos de inspiração e comportamento no mundo da música, além daqueles que fazem o mais cômodo, usando de fórmulas prontas que fazem sucesso.

Não só o Born To Die é um álbum muito bom, como os videoclipes da cantora tem se mostrado um primor estético, apresentando algum conceito e indo além do óbvio. Um belo exemplo é o clipe de Blue Jeans, deliciosamente envolvente e metafórico (Quem não babou pelo casal?) e National Anthem, no qual Lana aparece ora como Marilyn Monroe ora como Jackie O, esposa de J. F. Kennedy (que no clipe é interpretado pelo rapper A$AP Rocky), abordando o momento de ruína do relacionamento e da vida do ex presidente dos Estados Unidos. Além de Summertime Sadness, uma das minhas músicas preferidas e que ousou ao sugerir um relacionamento afetivo entre duas mulheres e a impossibilidade de viver sem a pessoa amada (o que culmina em suicídio duplo no clipe). Explorar temas polêmicos pode ser apenas estratégia de marketing, mas não se retira o mérito das produções. 

Lana resgata referências sessentistas. Ensaio para o álbum por Nicole Nodlan

A Lana das canções, ensaios e dos clipes tem um apelo imagético muito forte, apostando na linha menina-mulher inocente e provocante, repleta de paradoxos. Ela é sexy e recatada, maltratada, triste, submissa e apaixonada mas também pode ser poderosa, libertina, fútil e perigosa. Uma verdadeira lolita, com uma queda por canastrões, tudo com muita classe...  Na vida real, talvez Elizabeth Grant não seja nada disso. Ela tem se mostrado bem tímida, insegura e desconfortável nos palcos e nas entrevistas. Segundo a mesma, não gosta de cantar para muitas pessoas e se sai melhor como compositora e cantora de estúdio do que de shows. Parece também que não sabe lidar com as críticas negativas, chegando a ter declarado que se assustou com o que falam dela por aí. Muitos tem a impressão que ela não se esforça nenhum pouco para se apresentar, não se importando muito em cantar tecnicamente bem.

Onde começa e onde termina Elizabeth? A garota de jeito doce talvez esteja se encontrando como artista, aos poucos, no personagem criado por ela mesma. Talvez ela nem precise, afinal. Só o tempo para nos dizer se Lana Del Rey resiste à polêmica e prova que realmente é talentosa e autêntica, não se tratando de uma estrela cadente. Enquanto isso, continuemos a nos deliciar (ou não) com sua música e esperar as novas canções, que serão lançadas em novembro, com a Paradise Edition do Born To Die. Amando ou odiando, você vai ouvir falar dela. 

Confira abaixo uma playlist com os videoclipes e algumas apresentações ao vivo da cantora.



Thuanne Silva


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mallu e o "no more folk"

Foi folheando a edição da BRAVO! de julho em uma livraria que reconheci Mallu em uma das páginas. O assunto não era Mallu, mas sim sobre Tom Zé e seus aliados da nova geração musical inseridos em um contexto neotropicalista. Eu demorei a reconhecer. "É Mallu?", observei. Procurei o nome. Era. Cara de adulta, vestida de gente grande moderninha, a cantora (sim, hoje cantora) estava estampada do lado esquerdo da página citando a magnificiência do Tom Zé. Claro, Camelo também estava inserido no contexto da matéria.

Mallu ainda na época do "Tchubaruba"
Saí pensativo da livraria. As recentes aparições de Mallu, depois de um chá de sumiço, começam a fazer sentido. A Mallu-leãozinho de 15 anos e com problemas disléxicos em responder perguntas de programas ao vivo tinha, a princípio, manchado toda a possibilidade da cantora ter uma carreira que despontasse. O relacionameto atípico pela diferença de idade com Camelo foi, na época, outra discussão que tirou o foco da carreira musical. Mallu de fenômeno da internet virou babado do momento. Aí sumiu.
Já nem lembrava direito o sobrenome quando teasers do "Velha e Louca" começaram a aparecer pela TV e internet. Mallu tomou fermento, "cresceu para cima", colocou franja, rímel e ficou mulher, mais bonita. A adolescência folk passou.


Mallu em sua nova fase
A música que embalava o teaser divulgando a "neo-Mallu", lembro, também era boa. E o trecho dava curiosidade. No dia do lançamento da canção baixei e joguei o arquivo no celular. Mesmo sendo Mallu, era boa. Música boa a gente não dispensa.
A letra da canção que deu força para Mallu na mídia condizia com o contexto o qual ela estava construindo. Imaginem, quem não quer ouvir alguém que tomou chá de sumiço e apareceu dizendo que estava velha e louca? Eu queria...
Ainda com a primeira imagem folk malluniana na cabeça pensei: "'Velha e Louca' vai ser como 'Tô nem aí' da Luka. Todo mundo vai ouvir e depois esquecer". Lembram? Péssima comparação, eu sei. E, para mim, aconteceu. Aliás, quase acontecia. Passei duas semanas incluindo a música na playlist do celular que sempre escuto durante minha rotina, música boa para acordar. Dias depois fui ouvindo cada vez menos e a música quase deixou de ser música para ser arquivo que ocupa espaço em cartão de memória.
Aí apareceu "Sambinha bom" acrescentando positivamente. Quem depois de ver Mallu ressurgir de um jeito todo diferente e, em seguida, aparecer wave em um clip sambinha mpb de bom gosto ia lembrar da Mallu old? A campanha para apagar isso aqui tá forte! E Mallu (ou Camelo) pelo jeito vai conseguir.

Recordo que questionei em minha página do facebook "Que estilo é mallu?". Escrevi a publicação me baseando apenas nas duas canções lançadas/publicizadas que chegaram até a mim. Como prometi na publicação, parei para ouvir todo o cd "Pitanga" e, sublinho, o pensamento não muda: o cd é uma mistura. Que estilo é Mallu?

Mallu como garota-propaganda da campanha de inverno 2012 da My Shoes. Foto: Fábio Bartelt
Se estivesse em uma livraria e precisasse encaixar o cd em uma das sessões da prateleira, certamente criaria uma categoria especial para Mallu. Ela preservou muita coisa nesse álbum. Músicas em inglês continuam e, por um momento, a canção "Highly Sensitive" me trouxe Kid Abelha à memoria. Uma mistura que tá boa. Destaque também para "Cena".



É, certamente toda essa mistura musical é sinal de renovação não da Mallu, a artista; mas sim da música. Os estilos não são mais estilos e sim apenas placas norteadoras. Com a função de ajudar qual horizonte você quer seguir. Quem sabe daqui alguns anos essas nomenclaturas estilísticas caiam visto a quantidade de coisa diferente que anda aparecendo por aí.

Dou 4 estrelas para "Pitanga".

Para quem quiser provar da pitanga de Mallu:
Obs1: Falei de Luka no post e lembrei que ela está nas seletivas do The Voice Brasil. Prevendo uma edição fail sim ou claro? . Obs2: Outros exemplos de artistas intituláveis e 'inecaxáceis' em categorias assim como Mallu: Banda UÓ e Gaby Amarantos.
Darlan Caires