Posando de diva no ensaio feito para a revista Complex, por Glynis Selena Arba |
Amada e odiada. Não há meio termos para ela. Surgida de elevadas expectativas, Lana Del Rey ou surpreendeu ou frustrou muita gente. Batizada como Elizabeth Grant, ela é atualmente a queridinha e Judas da mídia. Em meio a promessas como "a nova Adele" ou a "substituta para Amy Winehouse", a cantora ficou famosa com o pseudônimo exótico no final do ano passado, depois de bombar na rede com um vídeo com colagens e imagens de webcam, produzido por ela própria, da canção Video Games, que logo se tornaria hit. Antes mesmo de lançar o seu primeiro álbum como Lana, Born To Die, Lizzy Grant foi superestimada, vista como a mais nova aposta para o ano de 2012, somente por algumas músicas jogadas na rede.
Sua estreia em televisão foi no Saturday Night Live, em uma apresentação que gerou repercussão e dúvida sobre a sua qualidade artística, tendo sido julgada como fenômeno hype. A recepção foi tão negativa que a moça resolveu adiar o lançamento do álbum e da turnê por conta da péssima repercussão da mídia e do público. No entanto, posteriormente, houveram outras apresentações, como a do programa David Letterman, que a cantora se saiu melhor, levando alguma esperança às pessoas que acreditavam em seu potencial.
A artista causou polêmica por fazer tanto sucesso de forma meteórica e trouxe à tona discussões como sua cirurgia de preenchimento de lábios, a possibilidade do pai da cantora (ou algum empresário) ter bancado sua carreira, sua "mudança de nome" e repaginação no visual (de menina tímida a diva retrô) para atrair o público, entraram nos argumentos dos antagonistas, além é claro, da sua duvidosa qualidade musical, principalmente nas apresentações ao vivo, tendo sua música julgada inclusive, como "sonolenta".
Delicada e provocante no ensaio da Complex, por Gislain Yarhi |
No final do ano passado, se falava muito sobre Mrs. Del Rey em todos os cantos. Confesso que esses artistas que surgem do nada geram em mim certa desconfiança. Não sabia quem era aquela com estilo sessentista, tinha visto apenas algumas fotos e logo a julguei como "nada de mais". Quem era ela que causou tanto burburinho, de onde tinha surgido? Despretensiosamente, em um dia qualquer, apertei o play no recém lançado clipe Born To Die no youtube e pronto... Fui surpreendida. O visual do vídeo era belíssimo e para o meu espanto, sua voz e letras, ao contrário do que eu pensava, tinha um timbre incomum e falava de temas sombrios como morte, perda e tristeza. Além do próprio fato da sua morte no vídeo (o que se tornaria comum).
A cantora faz a linha lolita retrô |
Junto com os arranjos, a música trazia uma atmosfera trágica - evidente de cara no título - e ao mesmo tempo envolvente e melancólica, me levando à lugares que nunca tinha ido antes, mas que eram familiares e me causavam certa nostalgia. Depois de alguns meses, resolvi baixar, sem expectativas, o recém vazado álbum que continha músicas naquela mesma pegada do segundo single. Acabei viciando. Logo em suas músicas, as quais eu não esperava nada. Com certeza há algo hipnotizante na sua voz. Dentre as melhores do álbum estavam Off to the Races, Diet Mountain Dew, Radio, Summertime Sadness e National Anthem. Aliás, nenhuma música realmente me desagradou no conjunto completo da obra. Born To Die dividiu as críticas e está entre os melhores do ano, segundo a revista britânica NME.
Bem verdade que Lana não trouxe elementos completamente novos em suas canções. No seu álbum, suas composições exploram temáticas como libertinagem, paixões por bad boys, melancolia, tristeza, saudade, tudo embalado em uma pegada gangster e até meio hip hop, além de arranjos eletrônicos e orquestração nas canções, conseguindo surpreender justamente por se mostrar distinta das cantoras pop da atualidade. O que há de errado em ser problemática, afinal? Há espaço para artistas com outros tipos de inspiração e comportamento no mundo da música, além daqueles que fazem o mais cômodo, usando de fórmulas prontas que fazem sucesso.
Não só o Born To Die é um álbum muito bom, como os videoclipes da cantora tem se mostrado um primor estético, apresentando algum conceito e indo além do óbvio. Um belo exemplo é o clipe de Blue Jeans, deliciosamente envolvente e metafórico (Quem não babou pelo casal?) e National Anthem, no qual Lana aparece ora como Marilyn Monroe ora como Jackie O, esposa de J. F. Kennedy (que no clipe é interpretado pelo rapper A$AP Rocky), abordando o momento de ruína do relacionamento e da vida do ex presidente dos Estados Unidos. Além de Summertime Sadness, uma das minhas músicas preferidas e que ousou ao sugerir um relacionamento afetivo entre duas mulheres e a impossibilidade de viver sem a pessoa amada (o que culmina em suicídio duplo no clipe). Explorar temas polêmicos pode ser apenas estratégia de marketing, mas não se retira o mérito das produções.
Lana resgata referências sessentistas. Ensaio para o álbum por Nicole Nodlan |
A Lana das canções, ensaios e dos clipes tem um apelo imagético muito forte, apostando na linha menina-mulher inocente e provocante, repleta de paradoxos. Ela é sexy e recatada, maltratada, triste, submissa e apaixonada mas também pode ser poderosa, libertina, fútil e perigosa. Uma verdadeira lolita, com uma queda por canastrões, tudo com muita classe... Na vida real, talvez Elizabeth Grant não seja nada disso. Ela tem se mostrado bem tímida, insegura e desconfortável nos palcos e nas entrevistas. Segundo a mesma, não gosta de cantar para muitas pessoas e se sai melhor como compositora e cantora de estúdio do que de shows. Parece também que não sabe lidar com as críticas negativas, chegando a ter declarado que se assustou com o que falam dela por aí. Muitos tem a impressão que ela não se esforça nenhum pouco para se apresentar, não se importando muito em cantar tecnicamente bem.
Confira abaixo uma playlist com os videoclipes e algumas apresentações ao vivo da cantora.
Thuanne Silva